quarta-feira, 15 de abril de 2015

Xé, correndinho, revertério! Gírias e sotaque do interior fazem parte de nossa identidade cultural

Por Gabriel Cariello

A língua portuguesa é um dos legados deixados por Cabral e companhia assim que colonizaram nosso país. Porém, quando conversamos com nossos amigos lusitanos, temos dificuldade em entendê-la, seja pelo sotaque “bagunçado” ou até mesmo pela diferença no vocabulário (em Portugal, bicha seria fila, rebuçado é pirulito). Mas mesmo aqui dentro de nosso país nós achamos uma dificuldade em entender nossa própria língua materna. Um nordestino não fala da mesma maneira que um carioca, nem um gaúcho fala igual a um mineiro. E aqui, no interior de São Paulo, o que predomina é o sotaque forte, o sotaque “caipira”.


José Lúcio ainda não substituiu o
"tchê" pelo "xé". Foto: Arquivo Pessoal
O nosso sotaque carregado para alguns pode parecer engraçado. A maneira que nós falamos porta (pronuncia-se porrrrta) ou dente (carrega-se o sotaque na sílaba –te) chama atenção de quem é de fora. O estudante de Publicidade e Propaganda José Lúcio dos Santos é de Porto Alegre-RS e mora em Sorocaba há quase um ano e meio. Uma das principais diferenças que José notou na maneira de falar logo que achou na cidade foi o uso do pronome de tratamento. “Nós gaúchos usamos o ‘tu’, e as pessoas aqui de São Paulo usam ‘você’, conta Lúcio. Os paulistas também notaram o seu sotaque logo que perceberam que ele era de fora. “Alguns acham bonito, outros acham estranho, mas com o tempo a gente acostuma. Hoje já consigo falar igual o pessoal de Sorocaba, mas ainda prefiro manter meu ‘gaúchês’”.

De acordo com a professora de Língua Portuguesa Márcia Palomo, os sotaques aparecem em razão de diversos fatores. “Como aqui no interior, tivemos influência dos bandeirantes, europeus e até mesmo indígenas, é provável que a nossa maneira de falar tenha vindo deles”, explica. “Quando ouvimos alguém dizer ‘Nós fumo a algum lugar’ achamos que isso é um traço caipira, ou uma forma errada de conjugar o verbo, o que não deixa de ser verdade,  mas fumo também é a conjugaçao da primeira pessoa do plural do verbo ‘ser’ em italiano no passado, o que pode ser um resultado da influência de diferentes povos no nosso jeito de falar”.

Para Márcia Palomo, o nosso modo de falar pode ser
 influência de vários povos. Foto: Gabriel Cariello
Outra fator relevante na nossa maneira de falar são as gírias. Mas Márcia alerta que nem tudo é gíria. “Gíria é um vocabulário específico de um grupo social, é não um modo de falar ou uma forma de se expressar.” Uma das gírias mais ouvidas no interior de São Paulo é o ‘xé’, usada para demonstrar negação ou surpresa a algo. “Quando ouvi o ‘xé’ pela primeira vez, achei muito engraçado, mas também me lembrou o ‘tchê’ que falamos muito no sul”, lembra o estudante José Lúcio. Conjugar o gerúndio no diminutivo também é bem comum por aqui: “Hoje eu vi aquele menina andandinho pela praça”, ou seja, andando de forma lenta ou calmamente. Além disso, ouve-se bastante dizer que “foi uma gastura fazer esse trabalho” quando algo é muito cansativo.

Não se sabe de onde vem exatamente uma gíria, mas elas se espalham com facilidade e entram na rotina. Dizer por exemplo que está “chovendinho” ou ir “correndinho” a algum lugar, pode se tornar um vício na linguagem. Márcia alerta que o uso excessivo de gírias pode atrapalhar na comunicação. “Principalmente quando você conversa com pessoas que são de fora, que não tem conhecimento dos seus costumes, elas podem te entender de maneira errada, então é preciso tomar cuidado para não usá-las exageradamente”.


E você conhece algumas gírias do nosso interior? Castele algumas gírias abaixo para sua conversa não virar um forfé! Dá um clique nelas e confira!





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